A introdução desta obra é fulcral para o entendimento da psicoesfera que envolve a periodização literária portuguesa. Ela fala-nos da obra por de trás da obra. A obra de Deus, pelos espíritos, por de trás das obras de escritores de uma geração, tais como Eça de Queirós, autor dos textos deste livro, ditados mediunicamente ao português Fernando de Lacerda.
A introdução, por Almerindo Martins de Castro, contextualiza as ideias dos escritores desta geração a par das necessidades de renovação terrena daquela época.
“É esse mister divino – castelão do Infinito – que faz descer ao mundo da Inteligência os vulcões de inspiração que deslumbram e marcam inapagáveis as gerações onde fulguram os génios das Letras e das Artes.
E enquanto não houver mentalidade para mergulhar na luz de tal revelação latente, estará por escrever a página magistral, incomparável, emergindo a nova Renascença que houve em Portugal, quando ali surgiu e viveu a luminosa geração de talentos em que brilhou Eça de Queirós”.
Isso sucedeu talvez para apagar-se a simile Idade-Média que afogara o século XVIII e avançara até às sangueiras miguelistas, em pleno século XIX.” (p. 12)
“Se ao evangelismo de Guerra Junqueiro coube a formidável tarefa de pregar os fundamentos de tal liberdade, justiçando na filosofia dos seus versos imperecíveis as mentiras da sociedade sua contemporânea, a Eça de Queirós coube a ciclópica ilustração das teses, gisando nas páginas dos seus inapagáveis livros, em palavras de prosa que vivem e vibram qual se fossem as próprias criaturas humanas descritas e movidas dentro delas, – todas as misérias, vícios, hipocrisias, crimes da sociedade senil, que, à força de artifícios, escondia aos olhos ingénuos da plebe as marcas e as cãs de um passado de excessos e subterfúgios.
Eça de Queirós não foi um expoente isolado na revolução intelectual do seu tempo, mas um dos elos da cadeia espiritual destinada a acorrentar os tentáculos do polvo imenso que sugara até então o rubro sangue da gloriosa gente lusitana.” (p. 13)
Esta é uma obra que nos põe, de novo, em contacto com as ideias de Eça de Queirós. E se é discutível para filólogos e outros a semelhança das escritas espiritual e terrena, dúvidas não haverá sobre o carácter único de suas ideias e forma de as colocar ao serviço do leitor.
Citações
“Na filosofia não há modificação.
Existe na de agora, como na de outrora, a mesma amargura e a mesma observação. A diferença consiste em que eu, aí, via as coisas sob o aspecto limitadíssimo que a minha retina moral abrangia; e, agora, vejo-as de mais alto; a vista é mais firme e a observação mais funda.
Vejo as coisas no seu conjunto; penetro mais conscientemente as causas, e não me prendo com exigências de convencionalismo, de agrado, nem com circunstâncias de detalhe, que foram a preocupação, quase exclusiva de toda a minha obra. Esta despreocupação traz consigo, naturalmente, consequentemente, a falta do descritivo típico, a exiguidade da minudência.” (p. 70)
“Há mais de um decénio que não me preocupo com as parvoíces da Terra. Nem presumia a possibilidade de enviar novamente para aí a minha futilíssima correspondência, entregando-me à atividade, sem fadigas, do trabalho que me foi designado, como abelha dócil e paciente, quando alguém me insinuou a ideia de vir a ditar-te as minhas sandices.” (p. 225)