Jung defendia que a aceitação de si mesmo é a essência do problema moral e o centro de toda uma concepção do mundo.
E o que é isto de aceitação de si mesmo? Joanna de Ângelis, no livro Em busca da Verdade, diz-nos que é essa “fase de ajustamento do demónio com o anjo interiores”. Só que esta fase de ajustamento não tem de ser um confronto (que é como a maioria de nós encara), pois pode ser um encontro. Um auto-encontro necessário para a saúde das nossas relações e para a vivência do verdadeiro amor, diz-nos Marlon Reikdal, no capítulo 5 deste livro.
Olhar para nós mesmos, sem ser apenas a um espelho, não é comum, mas é possível com a dose certa de desapego. Esse auto-olhar ou olhar para si traz-nos revelações surpreendentes e muito frutíferas. Quando o fazemos, devemos questionarmo-nos: quais são os meus verdadeiros valores e em que de facto acredito? O que desejo realmente para a minha vida? O que posso fazer para viver num mundo melhor?
Mas o importante aqui é que estas não são perguntas retóricas ou meramente teóricas. Estas são perguntas que vão fazer-nos vacilar muitas vezes. Afinal, quantas vezes ao sermos tomados pelo cansaço e desânimo nos pomos tudo em questão? E como alinhar sentimentos quando face a esforços de uns só vemos dificuldades, e perante as aparências de outros só se lhe encontram facilidades e aclamação? E como resistir o esforço sincero e persistente parece não levar a lado algum? E o que fazer com a solidão? Tudo isto nos pode fazer questionar sobre se estaremos a saber fazer todo o bem que devíamos. Aí talvez lembremos Jesus para que nos mostre alguma coisa que dê alento. E neste diálogo de dores lá vem a questão sobre se será tudo consequências da lei de causa e efeito, ou se será apenas uma enorme falat de sentido para tudo? E é aqui que Iris Sinoti, psicóloga e uma das autoras deste livro, nos sugere que “a coragem de ser fiel a si mesmo, às convicções e concepções de valor, viver a vida sem fugir dela, superar o medo do desconhecido e do novo, olhar a escuridão da alma, tudo isso é trabalho do herói, de todos os que trilham o caminho da auto-realização.” (Iris Sinoti, in Espelho da alma, p.87).
A autoras diz ainda que para se fazer um herói não é preciso o reconhecimento externo, um herói faz-se fruto “da coragem e da envergadura que caracterizam os espíritos fortes, humanos, e dignificadores da sociedade” (Joanna de Ângelis, Jesus e a Vida).
Este livro, através dos ensinamentos de Joanna de Ângelis, estabelece relações detalhadas e pedagógicas entre a psicologia de Carl Jung, a codificação de Allan Kardec e os ensinamentos de Jesus. Para além de tudo o que aprendemos com este livro, ficamos com uma noção mais exacta de como o processo de reforma íntima proposto pelo Espiritismo é bem mais trabalhoso, doloroso e inevitável para a o progresso moral do que pensamos. Percebemos ainda porque é que a temática do auto-conhecimento é a central tanto na obra de Joanna de Ângelis, como na codificação espírita. Afinal, como asseverava Emmanuel, esta ainda é a maior necessidade da criatura humana.
Citações
“Cedo ou tarde teremos de admitir que, muito provavelmente, não tenhamos vivido a nossa vida verdadeiramente, mas a tenhamos vivido sob a óptica limitada da cultura, dos nossos pais, da genética, do género, e tudo o que compôs o nosso mundo percebido”
(Iris Sinoti, Espelhos da alma: uma jornada terapêutica, pp. 161).
“Se queremos que os nossos relacionamentos dêem certo, precisamos pegar de volta as nossas próprias projecções e recuperar a nossa vida não vivida”.
(Iris Sinoti, Espelho da alma, pp.173).