Na era do espírito

Na era do espírito
Título: Na era do espírito
Autor: Francisco Cândido Xavier e José Herculano Pires
Pelo Espírito: Diversos Espíritos
Género: Mensagens
Editora: GEEM
Observações: 14ª edição em 2015. Lançado em 1973

Esta obra, organizada por renomado espírita e estudioso José Herculano Pires, reúne diversas mensagens de diversos espíritos que nos elucidam sobre o propósito da caminhada terrena, nomeadamente em face das dificuldades vividas e do que por elas se pode alcançar em termos de aprendizagem e transformação íntima. Entre estas mensagens e a partir da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, podem ler-se prosas e versos, tais como estes, relativos ao contexto do lar:

 

Os namorados são sonhos

Entre a verdade é a ilusão,

Se chegam ao matrimónio,

O lar revela o que são

(Xavier de Castro)

 

Família e reencarnação,

Deu-as as fez buscando a paz,

Não levam mágoas à frente,

Nem deixam contas atrás.

(Roberto de Alencar)

 

Lar e Mãe — a dupla simples

Que a força da vida encerra,

Guardam consigo, ante Deus,

Toda a grandeza da Terra

(Antonio Bezerra)

 

Entre as diversas mensagens é interessante uma que nos leva à reflexão sobre a confusão terrena que alguns religiosos cristãos lançam sobre o pensamento humano, sobre a diferença entre venerar figuras e hierarquias e trabalhar, em prol da transformação íntima e dos outros, tal como ensinou Jesus.

“Chamados para servir, quantos de nós temos alegado, até agora, insuficiência, falha, defeito ou incapacidade, tentando justificar a própria omissão?

Curioso pensar, porém, que o Evangelho do Senhor não nos convida para exercer o ministério dos anjos e sim nos solicita engajamento para desempenhar o papel de servidores. Neste sentido importa recordar os elementos imperfeitos da própria Terra, convocados para a organização sócio-planetária conquanto as deficiências com que se caracterizam.

Enumeremos alguns.

A pedra é agressiva e capaz de ferir, mas suportando corte e ajustamento é a base da moradia e da estrada nobre em que os homens [seres humanos] edificam intercâmbio e segurança.

O solo em si é matéria primitiva concentrada, todavia, em se deixando tratar convenientemente, é celeiro de produção intensiva.

Certos fios metálicos atirados ao léu são resíduos para a sucata, no entanto, se ligados ao serviço elétrico fazem-se de imediato condutores de luz e força.

Os bichos-da-seda não são agradáveis ao olhar, mas se atendem aos programas de trabalho do sericicultor dão origem a tecidos valiosos.

O ouro é a garantia simbólica das riquezas de cúpula da organização social, entretanto o esterco é o agente que assegura a vitalidade e o perfume das rosas.

Chamados para servir! — Eis a indicação do Mais Alto no rumo de quantos amadurecem nas experiências do mundo, buscando a compreensão do bem. Se escutaste semelhante convite, não alegues inutilidade ou imperfeição para cobrir a própria fuga. O Senhor nos conhece claramente a condição de Espíritos ainda incompletos, mas se nos dispusermos a lhe ouvir a palavra, disciplinando-nos para o valor da utilidade, estaremos logo no clima do progresso em plenitude de melhoria e de elevação.” (p.55)

Citações

“Nos termos da Doutrina Espírita, do demónio nasce o homem e do homem nasce o anjo. Estamos todos no rumo da angelitude. Nossa humanidade (nossa natureza humana) caracteriza-se pela imperfeição, pelo predomínio dos instintos, pelos resíduos da animalidade ainda atuantes em nossa constituição psicossomática. Mas esses resíduos vão sendo eliminados na lapidação das vidas sucessivas. E como somos conscientes do processo de lapidação a que estamos sujeitos, podemos e devemos ajudar esse processo.

Basta um olhar atento ao nosso redor para verificarmos a realidade dessa concepção. As criaturas humanas estão dispostas numa escala progressiva que vai do bandido ao santo. O malfeitor de hoje será o cidadão honesto do futuro. E este, por sua vez, será o santo de amanhã, dependendo esse amanhã, em grande parte, do esforço evolutivo do interessado. Porque o ser consciente apressa ou retarda a sua própria evolução.

O chamado para o serviço do bem é a oportunidade que Deus oferece à criatura imperfeita para acelerar a sua caminhada rumo à perfeição. Quem não aproveita a oportunidade divina, apegando-se por comodismo ou displicência aos seus defeitos, desculpando-se com as imperfeições naturais que ainda carrega, furta-se ao cumprimento do dever espiritual. Mas as leis da evolução não o deixarão parado por muito tempo. Por isso ensinou Jesus: “Quem se apegar à sua vida perdê-la-á, mas quem a perder por amor a mim salvá-la-á”.

O comodista será sacudido e alijado do seu comodismo, mais hoje, mais amanhã, pela vergasta da dor. O sofrimento é tão grande na Terra porque maior é o comodismo dos homens. A seara continua imensa e os trabalhadores ainda são tão poucos! Não somos anjos para ser perfeitos e puros, mas trazemos em nós as potencialidades da angelitude. Se não acelerarmos a nossa lapidação pelo serviço, o lapidário oculto — e que está oculto em nós mesmos — agirá como convém para completar a sua obra.” (p.55)

 

“Médiuns espíritas!

Quando vos conscientizais relativamente à distância entre a vossa condição humana e a espiritualidade sublime da Doutrina de Luz e Amor que abraçastes, muitos de vós outros recuais ante as lutas por sustentar.

Compreendamos, no entanto, que quase todos nós, os companheiros encarnados e desencarnados, trazidos às tarefas do Espiritismo, somos seres endividados de outras épocas, empenhados ao trabalho de aperfeiçoamento gradativo com o amparo de Jesus.

***

Tiranos de ontem, somos agora convocados a exercícios de obediência e tolerância para as aquisições de humildade.

Autoridades absorventes que dilapidávamos os bens que se nos confiavam, em benefício de todos, vemo-nos induzidos, na atualidade, a servir em regime de carência a fim de aprendermos moderação à frente da vida.

Inteligências despóticas que abusávamos da frase escrita ou falada, prejudicando multidões, estamos hoje entre inibições e dificuldades, nos domínios da expressão verbal, de modo a reconhecermos quanto respeito se deve à palavra.

Criaturas que infelicitávamos outras muitas, deteriorando-lhes a existência em nome do coração, achamo-nos presentemente em longos calvários do sexo a fim de aprimorarmos os impulsos do próprio amor.

Trabalhemos compreendendo e sigamos servindo.” (p.124-125)