Esta é uma obra que nos marca, primeiro pela primazia narrativa, ou não fosso o autor espiritual o consagrado, enquanto encarnado na sua última conhecida existência, o escritor francês Victor Hugo. Segundo, porque nos conduz a profundas reflexões sobre o nosso comportamento, nomeadamente tendências do presente que podem ser reflexo do agir no passado, bem como sobre quem são os que nos rodeiam na família e na amizade atendendo ao que possam ter sido as nossas relações com estes no passado reencarnatório.
A obra retrata vivências em diversas reencarnações dos personagens centrais desde a Espanha do séc. XIX até a um país da América Latina do Sul. E não sendo ficcionadas geram um impacto ainda mais forte no leitor.
A partir da lei de causa e efeito, a narrativa confronta as visões mundanas viciadas pelos ensejos terrenos do poder, da volúpia e da glória com aquelas que a reencarnação impõe como ferramenta de ajuda à transformação íntima, ainda que aos olhos do quotidiano nos surjam como dores e sofrimentos. Esta obra conduz-nos ainda de forma exemplar às vivências de indivíduos caem e se levantam em vidas sucessivas, tal como sucede com o leitor, retirando-se importantes lições à luz dos ensinamentos do Cristo, cientificados pela atualização espacial e temporal espírita.
Citações
“E que aconteceu depois? O senhor mudou de comportamento em relação a você, alterando tratamento?
– Não houve prosseguimento da ocorrência, nem o patrão mudou a maneira de tratar-me, não havendo retornado ao assunto. Sucede, porém, que a partir de então, sou eu quem se encontra confuso, receoso, como se algo muito mal me fosse suceder.
– Quando isso aconteceu? – voltou a indagar o sacerdote, procurando dissimular o interesse pessoal.
– Há quatro dias aproximadamente – respondeu o jovem com relutância na voz.
– Que pretende fazer? – voltou a insistir o confessor das almas infelizes.
– Realmente não sei – esclareceu o moço. – Sinto, porém, que algo se modificou em mim. A imagem da mulher seminua não me sai da mente, e não a vejo mais como a senhora honrada que aprendi a respeitar, mas como uma qualquer de quem também eu tenho o direito de aceitar as promessas de carinho e de prazer.” (p. 90).