Labirintos do Ódio, da Traição e da Dor

Labirintos do Ódio, da Traição e da Dor
Título: Labirintos do Ódio, da Traição e da Dor
Autor: Arnaldo Costeira
Pelo Espírito: Doménico Pompeu
Género: Romance
Editora: Hellil
Observações: 1ª edição, 2011

Esta é um livro magistral. Podemos classificá-la, sem exagero, como livro merecedor de estudo académico na vertente da história. É uma nova forma de interpretar e retirar elações da história dos povos, mas também sobre caso prático do humanismo impresso a partir dos ensinamentos de Cristo, enquanto ciência filosófica que é o Evangelho. A obra remete-nos para o século XII, para Itália, mais propriamente para uma aldeia das cercanias de Assis. É o tempo de Francisco de Assis e relativo a um período de cerca de 20 anos, incluindo os últimos 15 anos de vida de Francisco de Assis, analisados a partir do contemporâneo e relacionados com a Obra e vidas dos implicados nessa Obra (espiritual) num Centro Espírita em Viseu.

Este livro revela factos escondidos da nossa história. Factos que contêm tanto de belo como de terrível. O belo acontece nos testemunhos de Francisco de Assis e pela mudança de atitude de Serôdio e Honório, dois poderosos senhores detentores de grandes posses e para quem trabalhavam quase todos os habitantes da aldeia (re)batizada de Esperança. Primeiro Serôdio, que se vence a si mesmo vencendo a cegueira que o orgulho impõe. É uma mudança que comove e muito ensina sobre o propósito da vida. E entre as personagens, Selénia, uma senhora de idade madura, portadora de mediunidade e que a todos abisma pelo que por ela o plano espiritual vai revelando em termos de alento aos dias daquelas gentes, mas também pelo seu entendimento da vida – sobretudo numa época em que era difícil compreender as relações entre o plano terreno e o espiritual.

A par da esperança, o horror, sempre presente, pelos relatos de vida daquelas gentes, os chamados servos da gleba – que o eram verdadeiramente, servos, escravizados às mãos de capatazes sem piedade e de senhores poderosos, estes “quase” donos daquelas gentes, pois eram quem gerava trabalho, o único meio de sustento do povo que vivia em torno das suas terras. Uma miséria moral que engolfava proprietários a par com a material que esmagava vidas. E entre uns e outros, mas vivendo como os primeiros e recebendo destes avultadas somas, tornando-se com o tempo igualmente proprietários, e vivendo como eles, o clero nas figuras de padres, bispos e muitos dos que se passeavam nos corredores do papado. Todos, alinhados com o amesquinhamento dos povos que serviam estes profundos ignorantes da vida. E é neste contexto que a histórias e a estória do esmagamento da aldeia de Esperança é posta à nossa frente. Enquanto uns se mobilizavam para a melhoria da vida de outros – os seus trabalhadores, outros, proprietários, sentiam-se ameaçados pelos ventos de mudança, que mais não eram que pedidos de justiça mínima sobre a forma como eram tratados e pagos.

Todavia, sabe-se, que quando o bem-estar do egoísta é afetado, se aliado a uma moral de baixa índole, a maldade pode assumir proporções inimagináveis. E foi isto que sucedeu na aldeia de Esperança e que a história adulterou. E ainda que o mal jamais ganha ao bem, isso pode não ser percebido se visto à luz dos factos de uma vida (existência) apenas. A realidade vivida tem de ser posta na perspetiva das existências sucessivas (reencarnação), se não, fica difícil de se compreender o que nos pode parecer injustiça face a esforços de mudança. E é este trabalho de enquadramento que o livro também faz enquanto romance histórico pegando nas vivências daquelas pessoas. O livro mostra ainda o quanto podemos fazer para amenizar as contas do passado alinhando-nos pela proposta que Jesus ensinou sobre como viver. E foi isso que Serôdio e Honório fizeram.

Esta é uma obra primordial para compreender inúmeros factos da nossa história, inclusive para inspirar novas formas desta ser exposta e ensinada nas nossas escolas e faculdades.

 

Citações

“A surpresa estampou-se nos rostos dos trabalhadores da Obra nascente. Amparado pelo braço, Francisco [de Assis] e três amigos aproximavam-se da mesa, de onde a reunião era dirigida.

Foi passando todos os elementos da Confraria, abraçando um a um com simplicidade, e deteve-se, depois, por momentos, de frente para eles, olhos serenos e de um brilho que irradiava vibrações de paz…

– Meus queridos filhos.

Como vos prometi aqui estou para vos saudar, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tenho tido novas do que aqui vindes procurando fazer e precisava de vir dar-vos ânimo e força de fé, vós que interpretastes com verdade a Ordem que Jesus, que a todos nos dá, de anunciarmos a Sua mensagem, nós os leigos que temos já um pouco de conhecimento da Verdade.

Permitam-me que diga algumas palavras aos que vos escutavam sobre a vinda do Consolador Prometido por nosso doce Rabi da Galileia.

Voltou-se para toda aquela pequena multidão, seus olhos humedeceram-se até às lágrimas. Relanceou o olhar para toda aquela sala, cheia de gente humilde, vestida pobremente, homens e mulheres em que os rostos espelhavam a esperança, despertados por uma vida que teria mudado de alguma maneira.

“Vai reconstruir a minha Igreja, Francisco”.

A frase soou aos ouvidos do discípulo amado, já alquebrado pelos anos e vicissitudes da vida, na luta pelo Bem e pelo Amor, junto desse enorme cortejo de aflitos e espezinhados irmãos, às mãos de uma sociedade perversa e materialista, escondida por detrás de uma falsa religiosidade.

– Meus bons irmãos.

A minha alma rejubila de alegria, ao olhar-vos neste dia.

Dou graças ao Senhor Jesus Cristo, na sua simplicidade e na sua humildade.

Jesus nunca quis que o Seu povo se revelasse pela pobreza, pela miséria, mas sim que todos se pudessem desprender do seu poder material e, juntamente uns com os outros, vivessem como irmãos na alegria e no sofrimento, na pobreza em espírito, que poderia conduzir a uma vida de amor.” (p. 391-392)

 

“Quando nos retemos na análise estritamente material, podemos perguntar-nos por que razão não nos recordamos de clamorosos erros do passado [de vidas passadas], certamente dolorosos em sua essência. E, nesse particular, podemos inferir que nunca estivemos envolvidos neles e, portanto, não nos podemos recordar.

Todavia, quando podemos refletir à luz das Leis de Amor e Verdade, como conhecemos sob a Bandeira do Cristianismo com o Cristo, do Espiritismo revelado, compreendemos que a justiça sempre funciona, apesar de nos escapar a forma como funciona, porque esse é Atributo de Deus.

Mas sabemos, à medida que vamos progredindo em direção a Deus, que vamos estando em melhores condições para compreender essas leis, para as conhecer em seus verdadeiros contornos.

Em realidade todos estamos a caminho, mas nem todos estamos no mesmo ponto da caminhada. Nossos percursos foram construídos a diversas velocidades, no exercício pleno do nosso livre arbítrio, razão por que sabemos, embora o possamos desconhecer de momento, que nosso passado é um somatório de quedas e reerguimentos, cujo diferencial, em benefício destes, vai sendo tanto maior quanto mais formos capazes de nos entregar à caridade, fora da qual não atingiremos a meta, que é a perfeição em Deus. ” (p. 415-416)