Missionários da Luz

Missionários da Luz
Título: Missionários da Luz
Autor: Francisco Cândido Xavier
Pelo Espírito: André Luiz
Género: Desenvolvimento Pessoal e Espiritual
Editora: FEB
Observações: Edição de 2013, 30ª edição em 1998, lançado em 1945. 3º livro da coleção “A Vida no Mundo Espiritual”, ditado pelo Espírito André Luiz

O livro ditado a Chico Xavier pelo Espírito André Luiz abre com uma metáfora sobre a atitude do ser humano, que se comporta como uma criança face à realidade e propósito da sua existência reencarnatória na Terra. Na nota introdutória pode ler-se:  “Enquanto a história relaciona a intervenção de fadas, referindo-se aos gênios tutelares, aos palácios ocultos e às maravilhas da floresta desconhecida, as crianças escutam atentas, estampando alegria e interesse no semblante feliz. Todavia, quando o narrador modifica a palavra, fixando-a nas realidades educativas, retrai–se à mente infantil, contrafeita, cansada… Não compreende a promessa da vida futura, com os seus trabalhos e responsabilidades.

Os corações, ainda tenros, amam o sonho, aguardam heroísmo fácil, estimam o menor esforço, não entendem, de pronto, o labor divino da perfeição eterna e, por isso, afastam-se do ensinamento real, admirados, espantadiços. A vida, porém, espera-os com as suas leis imutáveis e revela-lhes a verdade, gradativamente, sem ruídos espetaculares, com serenidade de mãe.” (p.7)

As páginas deste livro conduzem o leitor pela realidade da vida Espiritual. André Luiz testemunha o que vê e como compreende essa realidade. É como um clarão de luz face ao pensamento materialista, o qual, habituado ao conto de fadas terreno, estranhará que a vida possa decorrer daquela forma para alguns espíritos (tudo depende da evolução – moral e espiritual – de cada um). Num desses testemunhos, em que o Espírito André Luiz é levado pelo Espírito amigo (Alexandre) a visitar diferentes realidades daquela dimensão,  pode ler-se: “A mente encarnada engalanou-se com os valores intelectuais e fez o culto da razão pura, esquecendo-se de que a razão humana precisa de luz divina. O homem comum percebe muito pouco e sente muito menos.” (p. 30).

O livro dá assim continuidade ao que podemos descrever como reportagens sobre a vida no plano espiritual. Elucida-nos sobre o que sucede após a morte do corpo, bem como a forma como a espiritualidade superior participa na recuperação do desencarnado, na educação do espírito (ainda encarnado) e na organização e apoio à reencarnação dos espíritos na Terra, nomeadamente em aspetos relacionados com a família, responsabilidades, contornos anatómicos do corpo futuro, uniões físicas e espirituais, entre outros.

Esta é uma leitura relevante para que, de forma explícita, nos esclareçamos sobre a vivência terrena relativamente à nossa origem e destino – a do plano espiritual.

 

Citações

Ainda da nota introdutória destacamos:

“A maioria espanta-se e tenta o recuo. Pretende um céu fácil, depois da morte do corpo, que seja conquistado por meras afirmativas doutrinais. Ninguém, contudo, perturbará a lei divina; a verdade vencerá sempre e a vida eterna continuará ensinando, devagarzinho, com paciência maternal.

Ao Espiritismo cristão cabe, atualmente, no mundo, grandiosa e sublime tarefa. Não basta definir-lhe as características veneráveis de Consolador da Humanidade, são preciso também lhe revelar a feição de movimento libertador de consciências e corações.

A morte física não é o fim. É pura mudança de capítulo no livro da evolução e do aperfeiçoamento. Ao seu influxo, ninguém deve esperar soluções finais e definitivas, quando sabemos que cem anos de atividade no mundo representa uma fração relativamente curta de tempo para qualquer edificação na vida eterna.

Infinito campo de serviço aguarda a dedicação dos trabalhadores da verdade e do bem. Problemas gigantescos desafiam os Espíritos valorosos, encarnados na época presente, com a gloriosa missão de preparar a nova era, contribuindo na restauração da fé viva e na extensão do entendimento humano.

Urge socorrer a Religião, sepultada nos arquivos teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada em gênio satânico da destruição. A espiritualidade vitoriosa percorre o mundo, regenerando-lhe as fontes morais, despertando a criatura no quadro realista de suas aquisições. Há chamamentos novos para o homem descrente (…)”

 

Sobre a assistência a uma casa Espírita onde se realizam trabalhos mediúnicos, o Espírito Alexandre, que guia o Espírito André Luís naquela visita a diversos setores desse outro lado da vida, refere: “– É muito lenta e difícil a transição entre a animalidade grosseira e a espiritualidade superior. Nesse sentido, há sempre entre os homens um oceano de palavras e algumas gotas de ação.

Nesse instante, os primeiros amigos do plano carnal deram entrada no recinto.

– Veremos hoje – exclamava um senhor de espessos bigodes – se temos boa sorte.

– Não tenho vindo com assiduidade às experiências – comentou um rapaz –, porque vivo desanimado… Há quanto tempo mantenho o lápis na mão, sem resultado algum?

– É pena! – respondia outro senhor – A dificuldade desencoraja, de fato.

– Parece-me que nada merecemos, no setor do estímulo, por parte dos benfeitores invisíveis! – acrescentava uma senhora de boa idade – há quantos meses procuro em vão desenvolver-me? Em certos momentos, sinto vibrações espirituais intensas, junto de mim, contudo não passo das manifestações iniciais.

Dezoito pessoas mantinham-se em expectativa.

– Alguns – explicou Alexandre – pretendem a psicografia, outros tentam a mediunidade de incorporação. Infelizmente, porém, quase todos confundem poderes psíquicos com funções fisiológicas. Acreditam no mecanismo absoluto da realização e esperam o progresso eventual e problemático, esquecidos de que toda edificação da alma requer disciplina, educação, esforço e perseverança. Mediunidade construtiva é a língua de fogo do Espírito Santo, luz divina para a qual é preciso conservar o pavio do amor cristão, o azeite da boa vontade pura. Sem a preparação necessária, a excursão dos que provocam o ingresso no reino invisível é, quase sempre, uma viagem nos círculos de sombra. Alcançam grandes sensações e esbarram nas perplexidades dolorosas. Fazem descobertas surpreendentes e acabam nas ansiedades e dúvidas sem fim. Ninguém pode trair a lei impunemente e, para subir, Espírito algum dispensará o esforço de si mesmo, no aprimoramento íntimo… Dirigindo-se, de maneira especial, para os circunstantes, o instrutor recomendou:

– Observemos. (…)”

 

Nesta passagem faz-se referência à alimentação e ao facto de podermos ser alimento de “vampirismo” espiritual. Entenda-se por vampirismo a ação de espíritos de baixa condição (moral) que, afinizando-se por pensamentos e comportamentos afins com os encarnados, lhes retiram vitalidade, ainda que disso as pessoas não tenham consciência: “E o vampirismo mantém considerável expressão, porque, se o Pai é sumamente misericordioso, é também infinitamente justo. Ninguém lhe confundirá os desígnios e a morte do corpo quase sempre surpreende a alma em terrível condição parasitária. Desse modo, a promiscuidade entre os encarnados indiferentes à Lei Divina e os desencarnados que a ela têm sido indiferentes é muito grande na crosta da Terra. Absolutamente sem preparo e tendo vivido muito mais de sensações animalizadas que de sentimentos e pensamentos puros, as criaturas humanas, além do túmulo, em muitíssimos casos prosseguem imantadas aos ambientes domésticos que lhes alimentavam o campo emocional. Dolorosa ignorância prende-lhes os corações, repletos de particularismos, encarceradas no magnetismo terrestre, enganando a si próprias e fortificando suas antigas ilusões. Aos infelizes que caíram em semelhante condição de parasitismo, as larvas que você observou servem de alimento habitual.

– Deus meu! – exclamei sob forte espanto.”

(…)

“Não conseguia dissimular o assombro que me dominava.

– Porque tamanha estranheza? – perguntou o cuidadoso orientador – e nós outros, quando nas esferas da carne? Nossas mesas não se mantinham à custa das vísceras dos touros e das aves? A pretexto de buscar recursos protéicos, exterminávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os tecidos musculares, roíamos os ossos. Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valores educativos, para melhor atenderem a Obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência. O suíno comum era localizado por nós, em regime de ceva, e o pobre animal, muita vez à custa de resíduos, devia criar para nosso uso certas reservas de gordura, até que se prostrasse, de todo, ao peso de banhas doentias e abundantes. Colocávamos gansos nas engordadeiras para que hipertrofiassem o fígado, de modo a obtermos pastas substanciosas destinadas a quitutes que ficaram famosos, despreocupados das faltas cometidas com a suposta vantagem de enriquecer os valores culinários. Em nada nos doía o quadro comovente das vacas-mães, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirassem agradavelmente. Encarecíamos, com toda a responsabilidade da Ciência, a necessidade de proteínas e gorduras diversas, mas esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos protéicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte. Esquecíamo-nos de que o aumento dos laticínios, para enriquecimento da alimentação, constitui elevada tarefa, porque tempos virão, para a Humanidade terrestre, em que o estábulo, como o lar, será também sagrado.”