Obras póstumas

Obras póstumas
Título: Obras póstumas
Autor: Allan Kardec
Género: Doutrinário
Editora: FEB
Observações: Edição de 2014, 3ª edição em 1989. Lançado em 1944

“Provam a existência da alma os atos inteligentes do homem, por isso que eles hão de ter uma causa inteligente e não uma causa inerte.” (2 – A alma, item 6, p.33) Esta frase muito diz do que esta obra explica. Ela procura sintetizar com explicações lógicas e bem fundamentadas assuntos sempre presentes na nossa relação com a vida e com a existência. Aborda as questões de Deus e da alma, do períspirito no contexto das manifestações dos Espíritos, e, Jesus, as provas da sua existência a partir de um debate sério, não ambíguo e sem assunção de partido. Mostra que Jesus se refere ao milagre como feito extraordinário, para a época em que estes feitos se realizavam, mas que não o definem, nem a ele, nem ele como divino. Também se clarifica a diferença entre Jesus e Deus, pelo que não são uma única entidade. Tanto que as suas palavras na sua morte se dirigem ao Pai, a quem Jesus nos evidencia estar subordinado. Isto mesmo fica compreendido pela leitura das palavras dos apóstolos. “Para eles, Jesus era um homem profeta, escolhido e abençoado por Deus. Não foi, pois, entre os apóstolos que teve origem a crença na divindade de Jesus. S. Paulo, que não conheceu a Jesus, mas que, de ardoroso perseguidor, se tornou o mais zeloso e o mais eloquente discípulo da nova fé e cujos escritos prepararam os primeiros formulários da religião cristã, não é menos explícito a respeito. Há nele o mesmo sentimento de dois seres distintos e da supremacia do Pai sobre o Filho.” (Estudo sobre a natureza do Cristo, VI, p. 142). Sobre este tema conclui-se que “Após dezoito séculos de lutas e disputas vãs, no curso das quais foi posta inteiramente de lado a parte mais essencial do ensino do Cristo, a única que podia garantir a paz para a Humanidade, toda gente se acha cansada dessas discussões estéreis, que só a perturbações conduziram, gerando a incredulidade, e cujo objeto já não satisfaz à razão.” (p. 153).

Esta obra trata ainda do processo de trabalho de Allan Kardec em torno de algumas das suas obras, bem como sobre a sua vida, saúde e morte.

Citações

“Se, conforme pretendem os materialistas, o pensamento fosse segregado pelo cérebro, como a bílis o é pelo fígado, seguir-se-ia que, morto o corpo, a inteligência do homem e todas as suas qualidades morais recairiam no nada; que os nossos parentes, os amigos e todos quantos houvessem tido a nossa afeição estariam irremissivelmente perdidos; que o homem de génio careceria de mérito, pois que somente ao acaso da sua organização seria devedor das faculdades transcendentes que revela; que entre o imbecil e o sábio apenas haveria a diferença de mais ou menos substância cerebral.

As consequências dessa doutrina seriam que, nada podendo esperar para depois desta vida, nenhum interesse teria o homem em fazer o bem; que muito natural seria procurasse ele a maior soma possível de gozos, mesmo à custa dos outros; que o sentimento mais racional seria o egoísmo; que aquele que fosse persistentemente desgraçado na Terra, nada de melhor teria a fazer, do que se matar, porquanto, destinado a mergulhar no nada, isso não lhe seria nem pior, nem melhor, ao passo que de tal forma abreviaria seus sofrimentos.

A doutrina materialista é, pois, a sanção do egoísmo, origem de todos os vícios; a negação da caridade — origem de todas as virtudes e base da ordem social — e seria ainda, a justificação do suicídio.” (2 – A alma, item 5, p.33)