“Ser Feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima dos próprios problemas e se tornar autor da própria história”
(Abraham Lincoln, 16º Presidente dos Estados Unidos da América, 1861-1865)
É habitual dizermos que a história tem sido pouco amigável para a mulher. Ela foi sendo ora injustiçada ora vítima da ignorância humana. Léon Denis, no livro “No Invisível”, refere que durante séculos a mulher foi relegada para segundo plano e até mesmo considerada responsável pelo fracasso do homem segundo as Escrituras. Este entendimento judaico perpassou para a Igreja e foi predominando, embora seja um entendimento totalmente contrário ao testemunho de amor do Cristo.
Aquele entendimento é igualmente incompatível com a lógica da evolução do espírito, o qual tanto encarna no corpo de homem como de mulher mediante a sua necessidade de aperfeiçoamento e de vivência de provas e expiações. Por conseguinte, se a mulher é injustiçada, o seu espírito não o é. E não é injustiçado à luz das leis de Deus porque toda a dor a que possa estar sujeito decorre da aplicação da lei de causa efeito. Se sofre injustiça, esse espírito, em vidas pretéritas, terá injustiçado outros – e, eventualmente, no corpo de homem.
Deus não faz nada de escusado, o ciclo de causa e efeito a que todos estamos sujeitos tem sempre uma finalidade maior: evoluir. E é neste processo que todos vamos refinando a nossa inteligência e condição moral. Vamos aprendendo o valor do amor pelo desenvolvimento da inteligência sensível e do entendimento da vida, gerando-a, tal como acontece pela mulher. Se se dá a injunção da dor, pela forma de injustiça, ela surge num contexto de oportunidade, nunca de castigo. A par disso, o ser mulher refina em si elementos ímpares de sensibilidade.
Léon Denis diz que é sobretudo pela mulher que se afirma a comunhão com a vida invisível. É dela que se refaz a vida, que se regenera a raça humana. A mulher pela sua intuição e sensibilidade é, por natureza, médium por excelência. Tem-no sido desde sempre, tal como sucedeu nos primórdios do Cristianismo e sucede hoje com o Espiritismo. Recorde-se, por exemplo, o seu papel no período de intermediação entre a nova fé e a fé antiga, em que a nova fé procurou recentrar a atenção do indivíduo no caminho da elevação moral e do conhecimento (a partir dos ensinamentos de Jesus, e cientificando estes a partir do Espiritismo), ao passo que a fé antiga declinava essa moral e empobrecia o conhecimento (antes de Jesus e depois dele quando sob o jugo da ignorância e do dogmatismo).
No contexto dos primeiros Cristãos vale a pena conhecer mais de perto Maria de Nazaré, mãe de Jesus (e de mais quatro filhos a duas filhas), Joana de Cusa (queimada com o seu filho na arena romana. Este espírito reencarnará, também, como Joanna de Ângelis, mentora espiritual de Divaldo Pereira Franco), Maria Madalena (irmã de Jesus, acusada de adúltera e condenada a apedrejamento, que Jesus salva e perdoa, dizendo “Eu também não te condeno, vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”. Episódio que marca a reconciliação familiar), e Maria Madalena, de Magdala, conhecida por meretriz de Magdala, que se diz ser a segunda figura mais relevante do Evangelho, depois de Jesus. É ela que protagoniza o episódio da lavagem de pés de Jesus na casa do comerciante Simão. [1]
Também vale a pena saber sobre o papel de Lívia, esposa do senador romano Públio Lentulus (*) [2], que viveu na Galileia no tempo de Jesus. É igualmente inspirador conhecer quem foi a jovem Célia, um coração amoroso e sábio que entendeu e aplicou todas as lições de Jesus no decurso doloroso da sua vida [3], bem como quem foi Alcíone [4], espírito que passa pela renúncia e que se dedica a todos aqueles que a cercam com enorme heroísmo, lealdade, sacrifício e amor, num período tenebroso da história – a frívola Paris do reinado de Luís XIV.
Ao longo dos tempos, a mulher foi sendo a ponte elevatória e de associação entre a obra de harmonia social e o movimento geral das ideias. A permeabilidade da sua sensibilidade estende-se à compreensão da reencarnação e das leis gerais que regem a vida do espírito, tal como explicado na codificação Espírita de Allan Kardec. Por isso, mais facilmente se tornam o verdadeiro sustentáculo da fé e da ajuda para que outros alcancem a luz do novo caminho.
A mulher que é a mãe, a esposa, a amiga, que é a companheira a quem se está imensamente grato pela oração na hora de aflição. Ela, que muitas das vezes tem de batalhar para que os seus escutem a mensagem consoladora, a do cristianismo redivivo. Para que aqueles ensinamentos entrem em casa e no coração das suas famílias. Que suportam o escárnio de uns e a indiferença de outros por esse papel entre o esclarecimento e a ignorância. Ela, que se mantém fiel às suas crenças e ao que consegue compreender antes de muitos, por inspiração, intuição, sensibilidade. É a mulher quem vastas vezes verte a Verdade com amor para o âmago familiar. Têm sido elas as enormes obreiras da paciência e da resiliência que medeiam a passagem do velho que ainda vive em muitos de nós e a renovação.
Vivemos numa efémera e transitória condição, pelo que a vida não pode ser um manto de arrependimentos e disputas, de medo e vazio de fé. Temos de agradecer começando em casa, pela dádiva da vida. Não percamos tempo. Nada é mais impressionante do que ouvir o testemunho de arrependimento de quem se comunica do além-túmulo numa sala de trabalho mediúnico. A clarividência com que os espíritos se dão conta do que afinal é (ou pareceu ser), ou não, importante na sua vida terrena, faz questionar fundo o cardápio das nossas certezas humanas. Questionemos o nosso imo sobre se já agradecemos hoje, se já fizemos algo pelo outro, tal como referia Jesus:
“Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são bem-amados meus. Instrui-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objectivo da provação humana. Assim como o vento varre a poeira, que também o sopro dos Espíritos dissipe os vossos despeitos contra os ricos do mundo, que são, não raro, muito miseráveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do que as vossas.” (capítulo VI, item 6) [5]
Nota:
(*) Públio Lentulus, senador romano, foi uma das encarnações do Espírito Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier.
Referências
[1] Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=obS46BT7oU0.
[2] XAVIER, Francisco Cândido, orientado pelo Espírito Emmanuel, Há 2000 Anos, FEB.
[3] XAVIER, Francisco Cândido, orientado pelo Espírito Emmanuel, 50 anos Depois, FEB.
[4] XAVIER, Francisco Cândido, orientado pelo Espírito Emmanuel, Renúncia, FEB.
[5] KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo.