O Evangelho Segundo o Espiritismo

O Evangelho Segundo o Espiritismo
Título: O Evangelho Segundo o Espiritismo
Autor: Allan Kardec
Género: Doutrinário
Editora: Hellil
Observações: 1ª edição em 2018 (tradutor Arnaldo Costeira), original lançado em 1866 por Allan Kardec

O livro inicia-se com um prefácio do Espírito de Verdade. Aceite na comunidade espírita como sendo de Jesus, o obreiro da mensagem Espírita. A sua mensagem: “Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.”, muito nos diz sobre a importância de compreendermos a dimensão das metáforas e alegorias do Cristo, isto para que possamos chegar, de forma concreta, ao ensinamento ali depositado.

 

NOTA: sobre esta temática, em “A Génese”, de Allan Kardec, cap. XVIII, item 8, o Espírito Arago (Dominique François Jean Arago, proeminente homem das ciências em França, 1786-1853) refere: “A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma população, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem a sua causa nas leis da natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia”. (…)

“Quando se vos diz que a humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra tem que se elevar na hierarquia dos mundos, nada de místico vejais nessas palavras; vede, ao contrário, a execução da uma das grandes leis fatais do universo, contra as quais se quebra toda a má vontade humana.”

 

Sócrates e Platão foram precursores dos ensinamentos do Cristo. Isso mesmo é debatido na introdução, tal como se atesta nesta passagem: “Segundo Sócrates, os que viveram na Terra se encontram após a morte e se reconhecem. Mostra o Espiritismo que continuam as relações que entre eles se estabeleceram, de tal maneira que a morte não é nem uma interrupção, nem a cessação da vida, sem solução de continuidade, mas uma transformação.” (p.37)

Esta soberba obra de filosofia, e ciência, que nos fala sobre o que somos e como devemos viver, na perspetiva moral e espiritual, foi organizada por Kardec e elaborada com base nos principais ensinamentos do Cristo, tal como dispostos nos Evangelhos dos quatro evangelistas do Novo Testamento. Cada ensinamento é comentado e explicado pelos Espíritos, entidades conhecidas na Terra, tais como, S. Paulo, Erasmus, S. Luis, Santo Agostinho, Emmanuel, Fénelon, Apóstolo Paulo…

Esta é uma obra que precisa de ser lida, revisitada e apreendida, com calma, pois a densidade dos ensinamentos e ajustes ao nosso habitual enquadramento religioso e materialista da vida (culturalmente aceites) pedem tempo para serem assimilados. Isto, para que entendamos a profundidade do que nos é transmitido a cada página. A obra reparte-se em cinco partes principais: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral.

São inúmeros os assuntos debatidos e sobre os quais nos interrogamos regularmente e nas mais diversas instâncias. Logo no início refere-se ao âmago do Espiritismo e à  aliança da ciência e da religião, dizendo sobre esta última, no item 8: “A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral: mas, umas e outras, tendo o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.

Os tempos são chegados em que os ensinamentos do Cristo têm de ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos.” (p.45)

Há muitos ensinamentos que podem despertar-nos da letargia em que levamos os dias, tal como se refere no item 10: “Meus amigos, tenho ouvido muitos de vós dizer: Como posso eu fazer caridade? Muitas vezes nem eu tenho o necessário?

A caridade, meus amigos, pode fazer-se de mil maneiras; vós podeis fazer a caridade pelo pensamento, por palavras e por atos. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem se acharem sequer em condições de ver a luz. Uma prece, feita de coração, alivia-os.” (p. 203)

Esta é, pois, uma obra indispensável para quem procura alinhar o ser espiritual que é com o propósito dos seus dias, independentemente de ser ou não ser Espírita.

Citações

“Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e mais autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um polo a outro, manifestando-se por toda a parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas veem e ouvem a mesma coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos. Ao demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se pode fazer que desapareçam as coletividades; podem queimar-se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos. Ora, queimassem-se todos os livros e a fonte da doutrina não deixaria de conservar-se inexaurível, pela razão mesma de não estar na Terra, de surgir em todos os lugares e de poderem todos dessedentar-se nela. Faltem os homens para difundi-la: haverá sempre os Espíritos, cuja atuação a todos atinge e aos quais ninguém pode atingir. (…) Não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos; não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que fundará a ortodoxia espírita; tampouco será um Espírito que se venha impor a quem quer que seja: será a universalidade dos Espíritos que se comunicam em toda a Terra, por ordem de Deus. Esse o caráter essencial da Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade. Quis Deus que a sua lei assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu por fundamento a cabeça frágil de um só.” (…) (Introdução)